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quarta-feira, 16 de junho de 2010 0 comentários



EXTREMA DEVOÇÃO EM DIAS DE OBSCURIDADE
A estrada sempre acaba proporcionando bons momentos de reflexão e em uma dessas viagens estava pensando sobre o tempo em que estamos vivendo. Parece que estou sendo repetitivo em algumas coisas que tenho falado, mas são repetitivos os questionamentos que ouvimos. Falamos no artigo anterior sobre direcionamentos práticos em dias de mudanças, porém, tenho visto que um medo tem nos paralisado. O medo do escuro tem nos impedido de confiar na simplicidade diretiva para esse tempo.

Uma palavra tem pulsado em meu espírito nesses últimos dias. Isaias 42.14 diz: “Por muito tempo me calei, estive em silêncio e me contive, mas agora darei gritos como a que está em trabalho de parto, gemendo e respirando ofegante. Transformarei os montes e as colinas em deserto e farei secar toda a sua vegetação. Transformarei os rios em ilhas e secarei as lagoas. Guiarei cegos por um caminho que não conhecem, eu os farei caminhar por veredas que não conheceram, farei as trevas se tornarem luz diante deles e aplanarei os caminhos acidentados, Eu lhes farei essas coisas e não os desampararei”.

Esse texto continua falando sobre mudanças na condição das coisas. Tempo em que o silêncio é quebrado por um novo brado de Deus, voz que ecoa como nunca antes, despertando a igreja para remir o tempo (trazer o kairos para sua realidade), um romper como de trabalho de parto. Essa expressão me chama atenção por tipificar bem nosso momento (assim como a expressão “princípio das dores” comentada no artigo anterior). Ouvi um amigo comentar que somos como alguém diante de uma ecografia, não temos uma visão clara, mas ouvimos claramente seu som. Uma semente é gerada na obscuridade até que chegue o tempo oportuno de vir à luz.

Nesse tempo de mudanças, de lugares altos aplanados, lugares frutíferos perderem a vida, rios se dividirem e águas secarem, em meio obscuridade e falta de visão, Ele nos guiará por um caminho que não conhecemos, caminhos dos quais nunca andamos antes. Nesse momento em que nos faltam respostas prontas e uma perspectiva clara de futuro, somos desafiados a nos deixar ser guiados por Ele, para que a escuridão se torne luz diante de nós. O mais importante é entender que para Deus tudo é soberanamente claro e não nos desampara nesse processo de dependência para avanço.

Um processo em que nossa lógica perde seu sentido, expectativas frustram, métodos falham, resultados faltam e mais uma vez estamos diante do “paradoxo do Reino”. Um momento de desconstrução para aderir a uma nova mentalidade e andar por um novo caminho, desprovidos de expectativas exageradas e visão uma pré-concebida. No sentido existencial, um paradoxo é “um argumento chocante e inusitado por refletir o absurdo em que está imersa a existência humana, argumento que contraria os princípios básicos de pensamento e desafia a opinião concebida e compartilhada pela maioria, aparente falta de nexo ou de lógica; contradição”
[1].

De certa forma a mensagem profética sempre foi paradoxal, provocando uma reação, a conversão do coração do povo a Deus para cumprimento de um propósito. A nossa lógica e herança cultural está sendo confundida pelo paradoxo do Reino. Assim como da esterilidade natural de Sara, Rebeca, Raquel, Ana, Isabel, Deus chamou a existência homens que cumpriram propósitos divinos, da obscuridade natural nasce uma claridade divina, um novo censo de direção e sentido, como nos dias dos Adão, Abraão, Moisés e os primeiros discípulos de Cristo.

Na sua bíblia Gênesis 1:2 diz: “A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”. A terra havia se tornado um caos, estava em obscuridade, porém o Espírito “pairava”, sustentava-se sobre, a palavra original aponta para “dominar do alto”. O Espírito de Deus “chocava” no intuito de guardar e proteger para recriar. Creio que assim como na criação, hoje o Espírito Santo continua sendo derramado (Joel 2.28) sobre toda a terra para que através da palavra viva personificada nos santos, a igreja tenha voz para chamar a existência às realidades de uma nova criação.
Isaias 45.7 diz: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”. Deus chamou à existência a luz, segundo a “torá” Ele disse: “Seja a luz”. Trouxe sua própria expressão na terra e a partir dessa luz tudo foi recriado. Sabemos quem é a luz, e a partir dessa luz tudo se fez novo. A partir da luz as trevas foram modeladas (criou as trevas; bara’) e foram estabelecidos limites para ela. Quero com isso dizer que Deus tem total controle sobre o processo que visa o cumprimento do seu plano. Segundo Isaias 45.7 diz que ele faz o mal e a paz. Jó 5.18 diz: Ele causa a dor e Ele mesmo a contém, fere gravemente e cura. Tudo que Ele faz é bom e para o bem daqueles que o amam, o fato de ainda estarmos nos alimentando da árvore do conhecimento do bem e do mal ao invés de estarmos ligados a “videira verdadeira”, o fato de andarmos segundo a inutilidade dos nossos próprios pensamentos ao invés de amarmos a “luz”, faz com que esse Reino de Deus ainda pareça um paradoxo.

Ainda que vivamos dias de obscuridade e a luz ao redor de nós de torne noite, até as próprias trevas não te serão escuras: “as trevas e a luz são a mesma coisa. Pois tu formaste o meu interior tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem”(Salmo 139.11). Isso é fantástico! Deus sempre vê claramente, e mais uma vez as escrituras usam a figura de uma gestação, pois da obscuridade, de modo assombrosamente maravilhoso nos formou, parte por parte, até o tempo do nascimento. Todo trabalho de parto é traumático e toda experiência que tem como objetivo trazer o marco de uma nova estação tem que ser radical o suficiente para definir o tempo e fazer com que nossas vidas nunca mais sejam as mesmas.

Enquanto para muitos a escuridão e obscuridade é ambiente de medo e fuga, devemos buscar fazer desse ambiente um lugar de confiança e extrema devoção, para que da escuridão, venha a existência um novo caminho, uma visão clara dos próximos passos que nos levarão a abraçar nosso destino. Devemos tomar cuidado porque sempre que estamos no escuro, procuramos por algo ou alguém em que possamos nos apoiar. Nesse momento podemos procurar nos apoiar em algo aparentemente seguro e deixar de avançar para um lugar claro, ou ainda podemos retroceder ao um lugar em que estávamos antes, que nos parecia mais seguro abortando a jornada e a busca. Quero voltar com você ao testemunho de homens que venceram seu medo do escuro para poder ver claramente a partir de uma perspectiva divina.

VAMOS AS TESTEMUNHAS
Nossa primeira testemunha é Abraão e em Gênesis 15 diz: “Depois destes acontecimentos, veio a palavra do Senhor a Abrão, numa visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande. Ao pôr-do-sol, caiu profundo sono sobre Abrão, e grande pavor e cerradas trevas o acometeram; então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos”. Um contexto que envolve um propósito, uma relação pactual de Deus com um homem, porém, num ambiente de densa escuridão uma visão clara do futura é alcançada! A partir da impossibilidade humana de ver, um plano sobremodo elevado pode ser alcançado. Sempre falamos sobre como seus pensamentos são altos e seus caminhos são altos, porém, insistimos na lógica dos nossos pensamentos e nossos caminhos. Hoje temos a oportunidade de ver a partir da nossa incapacidade de enxergar.

Nossa próxima testemunha é Moisés, Arão e o povo de Israel. Deuteronômio 5.22 diz: “Estas palavras falou o Senhor a toda a vossa congregação no monte, do meio do fogo, da nuvem e da escuridade, com grande voz, e nada acrescentou. Tendo-as escrito em duas tábuas de pedra, deu-mas a mim. Sucedeu que, ouvindo a voz do meio das trevas, enquanto ardia o monte em fogo, vos achegastes a mim, todos os cabeças das vossas tribos e vossos anciãos, e dissestes: Eis aqui o Senhor, nosso Deus, nos fez ver a sua glória e a sua grandeza, e ouvimos a sua voz do meio do fogo; hoje, vimos que Deus fala com o homem, e este permanece vivo”.

Estamos falando do monte Sinai, de um momento de cumprimento ao que havia sido mostrado a Abraão e de definição para uma nova realidade a ser estabelecida, porém, o ambiente mais uma vez era de obscuridade, em meio as trevas ouviram claramente a sua voz, declarando quem eles eram, o que haviam de fazer, trazendo uma nova legislação que os guardaria para sempre, apontando para o futuro. Salmo 105. 26 diz algo importante: “E lhes enviou Moisés, seu servo, e Arão, a quem escolhera, por meio dos quais fez, entre eles, os seus sinais e maravilhas na terra de Cam. Enviou trevas, e tudo escureceu; e Moisés e Arão não foram rebeldes à sua palavra”. Em meio a falta de uma visão humana clara foram fiéis ao que estavam ouvindo claramente. Sei que não temos hoje uma visão clara, porém, não temos como negar que estamos ouvindo o Espírito claramente.

Lembramos de Jó 12.22 onde diz que da escuridão pode revelar coisas profundas e fazer da luz escuridão, pode fazer algo crescer e acabar, dispersar e juntar. Deus pode provar para cada um de Deus que é infinitamente mais do que tudo o que até hoje pensamos ao seu respeito, Ele pode nos levar até o lugar de onde declararemos “não ter nada a declarar”, ao lugar de onde o veremos como nunca antes. Assim como Jó, no meio da escuridão declarou antes conhecê-lo apenas de ouvir falar mas agora seus olhos o viam claramente.

Não podemos deixar de citar Paulo, um homem determinado que vivam uma jornada contra a seita que crescia declarando um falso Messias usando como base de sua fé a torá. Ele tinha convicção que Deus o havia chamado para isso, até um encontro na estrada de damasco, onde se depara com a “luz” que o cega completamente por três dias para que sua vida mudasse de condição radicalmente. Paulo é um ótimo exemplo de que devemo ser cegados para ver claramente. Foram três dias cegos, porém muitos anos na obscuridade, no sentido de uma busca no anonimato pelo desconhecido, afastamento da vida social, ausência de celebridade e glória
[2]. Foram anos em que “recebeu do Senhor o que nos entregou”.

Além de muitas outras situações que você pode se lembrar, queremos encerrar fazendo menção do nosso mestre, no momento decisivo de seu ministério. Lembrando mais uma vez de Mateus 26.36, no Getsêmani, um lugar de extrema pressão se moveu em extrema devoção. Estamos vivendo dias de pressão intensificada, momento de definição, um ambiente propício para uma extrema devoção, uma entrega sincera, orações fervorosas e reverente submissão. Segundo Lucas 22.39, Jesus estando em agonia orava mais intensamente, enquanto seus discípulos dormiam de tristeza. Não é o momento de desanimar, mas de buscarmos ouvir para saber o que fazer. Falamos mais sobre esse texto no artigo anterior “O desafio de ter uma direção em dias de mudanças globais”.

VENCENDO O MEDO DO ESCURO
A primeira sensação que temos quando nos encontramos no escuro é medo e enquanto lia algumas coisas sobre isso, encontrei um comentário interessante de Mark W. Baker: “O medo é um elemento essencial da vida, uma reação natural a um perigo. Ao enfrentar nossos medos podemos aprender muitas coisas sobre nós mesmos, ao passo que tentar fugir deles costuma nos levar a direção errada. Deus sabe disso. Ele não nos desvia do vale tenebroso (Salmo 23.3), mas nos encoraja a atravessá-lo estando conosco. O medo é um sinal para nos lembrar que a melhor maneira de lhe dar com uma crise é não atravessá-la sozinho”
[3].

O fato de estarmos sozinho em um lugar de obscuridade potencializa o medo, porque revela nossa vulnerabilidade, que significa uma condição de exposição, quando nos sentimos desprotegidos e corremos riscos. Assim que Adão e Eva tomaram consciência de sua vulnerabilidade, se assustaram e se esconderam. Creio que Deus está nos levando a esse lugar de vulnerabilidade, de exposição e de risco. Mark W. Baker comenta algo sobre isso: “Ser franco é fácil. A vulnerabilidade assusta. Quando somos vulneráveis admitimos que dependemos dos outros, dependemos de pessoas imperfeitas que podem falhar conosco e do Deus que pode ter planos diferentes dos nossos”
[4].

Em Êxodo 20.20 diz: “Não temais; Deus veio para vos provar e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis”. Não tenhamos o medo que afasta de Deus e aproxima de bezerros de ouro, da religião segura e estável. Devemos evitar o medo que nos paralisa pela preocupação de evitar o risco e a dor, obcecada pelo que se podemos perder. Porém, agindo assim, perdemos a oportunidade de nos desenvolver e somos lançados em um ciclo de frustração uma vez que “Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece”(Jó 3.25).Tenhamos seu temor a fim de que não nos desviemos por caminhos rápidos e sejamos surpreendidos pelo destino. Devemos nos aproximar de Deus e não nos afastar dele. Esse temor é o princípio da sabedoria porque a consciência de quão maravilhosamente soberano Ele é revela quão limitados somos.

Tentando trazer alguns passos práticos para esse tempo, nossas testemunhas entenderam o momento em que viviam como de definição e de “extrema devoção”. Por isso, encorajamos a todos que se envolvam como nunca no ministério da oração, estamos intensificando essa dinâmica em nossa vida pessoal e nas mobilizações para que tenhamos um movimento que coopere com atuação do Espírito a partir da Igreja. Logo que cheguei de viagem li uma palavra compartilhada pela equipe Rugido do Leão que coopera com o que estamos orientando: “Nós precisamos nos esforçar exercitar, nos comprometer. Precisamos entender que já passamos para outra estação, que já vencemos os desafios que estavam antes. E esse é um tempo de esperar, e esperar no sentido como Jesus falou para os seus discípulos, espere em Jerusalém, desenvolvam a oração. Esperem com outras perspectivas, não tentem mais pensar em idéias novas, produzir coisas novas. Espere, espere, busque.Porque nesse tempo nós vamos ver um crescimento, o ensino sendo ampliado, e quando isso acontecer nós vamos nos sentir encorajados, porque nós vamos ver a transição se concluindo. E com isso vai haver um realinhamento em nosso meio. Nós vamos nos sentir encorajados, porque estamos sendo moldados. E aí nós vamos funcionar com mais autoridade. Para construir o que nós fomos chamados para construir”
[5].

Outro passo importante é não estar só, a devocional pessoal, trará a convicção de que não estamos só, porém, assim como diz Hebreus 10.23: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima”. O autor fala da necessidade de guardarmos com firmeza a declaração daquilo que foi anunciado e está prestes a se cumprir, pois quem prometeu é fiel e verdadeiro. O interessante é que esse “guardar com firmeza” está relacionado ao “considerar”, olhar a nossa volta para perceber a necessidade de estimular uns aos outros. Essa expressão tem a ver com “tornar afiado, acelerar, urgir e até mesmo provocar”. Mediante a tudo o que já vemos e ouvimos, agora precisamos olhar a nossa volta, perceber que não estamos sozinhos e nos comprometer em estimular.

Porém, para isso será necessário não desistir de “congregar”, expressão de fala de se unir aos que já estão juntos. Quando penso nessa expressão congregar, a figura que me vem a mente é de um ônibus aqui de Curitiba chamado “ligeirinho”, em sua rota das 18:00 horas, para aqueles que moram em São Paulo pode ser comparado com o metro. Mas o que isso tem a ver? Eram conduções são geralmente tão lotadas, as pessoas estão tão próximas umas das outras que mesmo sem ter onde segurar, não correm o risco de cair. A raiz da palavra congregar, “epi” tem a ver com essa posição de pessoas perto, sobre, acima, por todos os lados, e esse congregar proporciona um ambiente de “admoestações”, que tem a ver com chamar as pessoas para o lado, afim de que haja instrução, fortalecimento, estimulo ao aprimoramento moral, comportamental e espiritual. Quanto mais vemos que dias de finalização se aproximam, mas precisamos resgatar essa dinâmica de vida e de funcionamento.

1 João 4.18 diz: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro”. Quando nos deixamos ser completos pelo amor, não há lugar para o medo. O medo nos impede de crescer e amadurecermos nesses princípios fundamentais do nosso funcionamento. Voltemos ao primeiro amor, voltemos a quem nos amou primeiro, voltemos mais uma vez uns aos outros para que possamos avançar nesses dias de obscuridade, ouvindo claramente sua voz e guiados por um novo e vivo caminho.

Fraternalmente
Anderson Bomfim

[1] Dicionários Houaiss
[2] Diconário Houaiss
[3] BAKER Mark W. Como Deus cura a dor.
[4] BAKER Mark W. Como Deus cura a dor.
[5] Blog Fábio Souza www.am38.rugidodoleao.com/?paged=2

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