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:: A EXPECTATIVA DO REINO I ::

[ terça-feira, 29 de junho de 2010 | 3 comentários ]


Após meu último artigo publicado sobre a ansiedade e o artigo da Andrea sobre o processo de tratamento de feridas antigas que nos liberam para novas possibilidades, entendo de continuar insistindo no alinhamento pessoal quanto à expectativa do Reino. Assim como na jornada escolar do ensino fundamental avançamos para um novo período a partir de uma assimilação básica do conteúdo anterior, precisamos entender a importância de alguns princípios que representam o pré-requisito para um novo entendimento e funcionamentoAlgo que aprendemos com o tempo é que todo aquele que “Vê” aprende a conviver com certo nível de frustração ministerial. Creio que Davi viu juntamente com uma cia. Profética a expressão de uma realidade eterna e tentou manifestá-la na terra, deixou uma planta a partir dessa visão, mas creio que tinha ainda dentro de si a impressão que faltava algo, creio que assim tenha sido com Abraão, Moisés, Paulo e muitos ministros que tiveram uma “visão” e partiram em uma jornada a partir dela. O que quero tratar aqui é de uma frustração resultante de expectativas pessoais, uma condição de nos desconecta de uma visão e propósito de Deus.

Quero compartilhar aqui uma das palavras que mais tenho ministrado nesses últimos dias, por ser uma verdade escritural importante e um entendimento alcançado pela nossa breve vivencia e experiência de vida e serviço ministerial. Trata-se do texto Lucas 24, um contexto de “terceiro dia”, termo que creio falar de dias de cumprimento, dias de mudanças radicais na condição das coisas, dias de definição, em que nossa desatenção pode nos estagnar em uma realidade atrasada e ineficiente, como aquelas mulheres que estavam levando aromas para o corpo de Jesus e foram surpreendidas por um tumulo vazio. Anjos que cooperavam com o propósito chamaram a atenção dizendo: “Porque buscam ao que vive entre coisas que estão mortas”? Estamos entrando em um terceiro dia, vivemos dias de cumprimento e estamos diante de um novo cenário mundial e espiritual se formando sobre toda a terra e os céus.

Estamos diante de dias maiores e melhores, não no sentido triunfalista da nossa teologia materialista, mas no sentido de um cumprimento profético ser maior do que a própria profecia (Mateus 11.11). Estamos próximos de ver uma cooperação celestial intensificada para que propósitos sejam cumpridos e novos caminhos sejam abertos. É nessa perspectiva que Jacó, o terceiro de uma era patriarcal, um homem que estabelece na sombra e Jesus na realidade, viram céus abertos e a soberania de Deus manifesta por meio anjos subindo e descendo, coisas se cumprindo e coisas novas se iniciando, continuamente. Esse é o segredo da jornada ministerial, nos tornar pessoas que cumprem propósitos, mais do que mostram resultados, avançarmos em concordância com essa movimentação espiritual.

Toda a perplexidade e o medo daquelas mulheres diante daquele cenário, prova que estavam sendo surpreendidas. O fato das palavras de ressurreição terem parecido aos discípulos como um delírio sinaliza um desalinhamento, uma falta de entendimento, expectativas pessoais estavam acima daquilo que o próprio Cristo havia lhes falado. Por esse motivo mais uma vez os anjos chamam a atenção dizendo: “Lembrai-vos de como vos preveniu, estando ainda na Galileia, quando disse: Importa que o Filho do Homem, seja entregue nas mãos de pecadores, e seja crucificado, e ressuscite no terceiro dia. Então se lembraram das suas palavras”. Prevenir significa antecipar algo com objetivo de evitar um mal ou um dano causado pela frustração. Jesus informou antecipadamente a todos sobre o processo necessário para cumprir um propósito especifico, mas expectativas humanas e nacionalistas se misturavam com uma realidade divina. Jesus fez tudo o que disse, mas não como todos esperavam. A partir dessa crise de expectativas pessoais e uma realidade divina em movimento, quero desenvolver alguns ensinamentos com objetivo de evitar que mais uma vez sejamos afetados pelo engano do nosso próprio coração cheio de motivação e desprovido de inspiração.

IDENTIFICANDO A ILUSÃO COMO A PROJEÇÃO DE UM ENGANO
Quantos já foram vítimas de encantamentos que geraram ilusões? Mas o que significa uma ilusão? É o engano dos sentidos ou da inteligência, um erro de percepção ou de entendimento. É a confusão de aparência com realidade, do falso com o verdadeiro, a fantasia da imaginação que se revela decepcionante e dolorosa . Nossos sentidos, emoções e mente, podem ser movidos por idéias ou ideais imaginários, projetam expectativas fantasiosas que nos enganam e nos traem, nos frustrando quando confrontados com a realidade de Deus. É comum pessoas se iludirem em relacionamentos, referenciais pessoais, politicamente, profissionalmente, mas o que preocupa é que pessoas estão sendo iludidas ministerialmente apesar de Deus ter uma proposta concreta para nossas vidas. O mais sério de tudo isso é que “todo esse ciclo de ilusão traz conseqüências e traumas que comprometem a vida e o propósito de Deus para uma geração”.

Acredito que tenha sido muito oportuna a cooperação da Andrea com seu artigo, porque, essas projeções pessoais são reflexos de possíveis áreas mal resolvidas em nosso homem interior. Essas projeções são como miragens, um efeito produzido pela luz que cria imagens distantes e que desaparecem à medida que nos aproximamos, uma metáfora daquilo que se apresenta como algo muito bom, mas que não é verdadeiro; uma falsa realidade, ilusão ou um sonho . Uma projeção que nos move a lugar nenhum, uma jornada em que o ponto da promessa nunca encontra o ponto do seu cumprimento. Muitas vezes por causa de uma rejeição ou inferioridade, sonhamos com o dia que seremos reconhecidos pelo serviço prestado ou aceitos pelos resultados demonstrados ou parecidos com alguém que admiramos. Nossos anseios muitas vezes falam mais alto do que aquilo que Deus está falando, e seguimos miragens espirituais, ideais que não passam de idéias pessoais, visões que não passam de fantasias evangelicais. 
 
Uma auto-avaliação e contínua renovação de mente serão determinantes para que tenhamos novos valores, nova linguagem e entendamos que Deus não tem sonhos e idéias soltas sem fundamentos, desejos incoerentes e fantasiosos, utopia ou ficção. Deus tem propósitos claros e bem definidos, a diferença de “sonho” e “propósito” não é apenas terminológica, porque propósitos exigem comprometimento com processo, fala daquilo a que alguém se propôs porque se decidiu; aquilo que se busca alcançar com determinação, é quando se faz algo objetivo com finalidade . Sonhos são passivos, propósitos são dinâmicos, pessoas morrem com sonhos, pessoas vivem para cumprir propósitos. Enquanto sonhamos, Deus continua avançando soberano no cumprimento de todos os seus planos conduzindo a todos que se submetem aos devidos processos.

Espero que alcancemos a clareza espiritual que se dá em meio a obscuridade natural, superando um dos maiores inimigos desse processo; sabermos tudo o que temos que fazer, agirmos de forma independente e autônoma em nome de um auto comissionamento pseudo-apostólico, adotarmos uma expressão ministerial desconhecida na vida e obra de Cristo, muito menos nos atos dos apóstolos que atuavam de forma corporativa.

A FONTE DAS ILUSÕES COMPROMETEM A MOTIVAÇÃO
Apesar do Reino de Deus ser espiritual e invisível, é fundamentado na Rocha Inabalável, é ordenado por princípios e avança segundo propósitos estabelecidos, é real, mais do que tudo o que se pode tocar no mundo natural. Reino de Deus não é uma ilusão. Então, porque existem tantas pessoas frustradas? Decepcionadas com a Igreja, desiludidas com o ministério? Isaias 44.20 explica a fonte das ilusões: “Tal homem se apascenta de cinza, o seu coração enganado o iludiu, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Não é mentira em que confio?” Versão Reina Valera, fala de se alimentar de cinzas, quando nos deixamos guiar ou nos alimentamos de coisas sem valor e significado, nosso coração enganado nos ilude de modo que não conseguimos perceber que há uma mentira em nossa mão direita. O que tem gerado ilusão, nada mais é do que o coração ansioso do homem, enganado pelo falso entendimento, por suas próprias aspirações. Portanto, se a ilusão é a mãe da desilusão, cobiça é a mãe da ilusão.


A partir do princípio de causa e efeito, por mais que venhamos procurar um culpado pelas nossas frustrações, ela tem origem em nossas próprias expectativas irreais colocada sobre situações, planos ou pessoas. Estou falando dos nossos desejos veementes, ambições e aspirações, busca por aceitação e reconhecimento, busca por novos benefícios materiais anti sacrificial, camufladas por uma linguagem ministerial em áreas de influência, estou falando da nossa preocupação egoísta por “todas as outras coisas” travestida de uma busca pelo reino de Deus. A frustração é o ponto em que o sonho acaba e nos deparamos com a realidade, o momento em que temos que assumir nossa futilidade religiosa e o quanto nossa mentalidade ainda é idólatra.
Tiago 1.14 diz que cada pessoa é tentada, colocada a prova sempre que é arrastada e atraída pelo engano do seu desejo. Então, tendo sido, concebido, o desejo dá a luz o pecado, o desvio do alvo que nos leva a lugar nenhum, e quando esse pecado cresce plenamente dá luz à morte (NTJ). A frustração se dá quando chegamos ao fim da estrada e somos surpreendidos pelo destino do caminho que escolhemos andar sozinhos, quando reconhecemos que o conhecimento do bem e do mal não pode nos levar de volta ao lugar de vida (Provérbios 14.12), então, reconhecemos que nossa sabedoria nos cegou e impediu de ter humildade de enxergar no que estávamos tropeçando (Provérbios 4.19).

A verdade é que somos provados em todo o tempo em nossas aspirações. O que estamos gerando dentro de nós é fruto de uma semente plantada por Deus ou nossa própria cobiça. Onde você intimamente se vê quando pensa no chamado de Deus para sua vida? Lembre-se que Provérbios 6.25 diz: “Não cobiceis no seu coração...” A cobiça é um desejo íntimo. Em 2 Pedro 1.4, diz que a corrupção que há no mundo é causada pela cobiça, paixões e aspirações corrompidas. Por isso 1 João 2.15 nos diz: “Não amem o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele; pois todas as coisas do mundo, os desejos da velha natureza, os desejos dos olhos e as exigências da vida não provem do Pai, mas do mundo. E o mundo está passando junto com seus desejos. Aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece para sempre (NTJ)”. Esse texto traça um paralelo entre o amor aos valores que regem essa era e o amor do Pai, à medida que esse amor e adoção nos completa não nos sentimos mais pressionados a provar algo, a lutar por causas pessoais em nome de Deus, somos libertos da mania de grandeza que denuncia o quanto ainda somos pequenos e vazios. Não devemos mais trazer em nós a imagem do primeiro adão que quando colocado a prova desviou-se do propósito, mas sim trazer a imagem do segundo Adão que sendo provado nas mesmas coisas permaneceu fiel no amor do Pai.

O que isso tem a ver conosco? Estamos gerando algo do Espírito de Deus em nosso espírito ou da própria cobiça na alma? Expectativas humanas nos dão até dores de parto, mas damos a luz ao vento, isso é frustrante e causa traumas profundos (Isaias 26.18 diz: “Concebemos nós e nos contorcemos em dores de parto, mas o que demos à luz foi vento; não trouxemos à terra livramento algum, e não nasceram moradores do mundo”). Não sei se você já passou por essa experiência de perder um bebê, a um tempo atrás minha esposa sofreu um aborto espontâneo, e mesmo sendo algo muito breve, trouxe muita tristeza e frustração. Imagine que estamos gerando algo com o qual sonhamos e quando chegamos na hora de ver nascer, não vemos nada a não ser vento. Também, podemos estar carregando algo de Deus em gestação e por não saber disso, estar correndo o risco de perder. O que me preocupa é que não ha tempo de gerar coisas vãs, de mais frustrações lançando-nos a mais esterilidade, nos impedindo de crer em algo genuíno e verdadeiro. Lembre-se: Estamos vivendo dias de aceleração, que não autorizam precipitações.

Tiago 4.2 e 3 diz “O que causa disputas e lutas entre vocês? Não são seus desejos guerreando em seu interior? Vocês desejam coisas que não tem; matam e invejam, mas não conseguem obtê-las. Então vocês lutam e disputam. O motivo pelo qual você não tem é que não oram. Ou vocês oram e não recebem, por orarem com a motivação errada; o desejo de saciar os seus desejos”. O texto fala de expectativas que não são alcançadas, de um ciclo de ilusões e frustrações, onde quanto mais desejamos, menos alcançamos. Diante do contexto de tantas divisões, de revelações sem relação pactual, ministérios multiplicando-se em nome de uma causa pessoal, tanta e situações de conflito, me pego fazendo a mesma de Tiago: de onde vem isso tudo? Essas confusões são reflexo de uma guerra de desejos pessoais em nosso interior. Revelam o quanto ainda somos meninos, incapazes de fazer algo juntos, o quanto nos falta uma “causa”, independente de afinidade pessoal. Sempre existe um novo ministério, trazendo no seu coração mais um sonho, um novo discurso e o mesmo comportamento.

Outro texto claro com relação é Ageu 1.6 “Tendes semeado muito e recolhido pouco, comeis, mas não chega para fartar-vos, bebeis, mas não dá para saciar-vos, vesti-vos, mas ninguém se aquece, e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel furado”. O povo estava ambicionando construir suas próprias casas ao invés de corresponderem ao chamado de Deus para reconstruir algo único, algo juntos, algo para Ele, o resultado disso foram frustrações (Ler Artigo “Vivendo a Restauração. Parte II). Quando somos iludidos, enganados por nossas emoções e imaginação, corrompemos as motivações e acabamos fundamentando nosso futuro no irreal. A qualidade das aspirações que temos determina a qualidade da motivação que nos move. Preste atenção! João 12.13 diz: “tomaram ramos de palmeiras e saíram ao seu encontro, clamando: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! E que é Rei de Israel!” Esse texto representa o cumprimento de uma palavra profética, mas ao mesmo tempo aponta claramente para uma expectativa de coroação ao Rei prometido, de uma aspiração política e social.

Textos sinópticos como Marcos 11.9-11, falam que nessa hora Jesus partiu para Betânia, que dentre os seus significados traz a “casa do aflito ou casa da preparação”. Jesus estava focado na cruz e não na expectativa que o povo tinha de um Rei, e, além disso, não alimenta nenhuma ilusão no coração de ninguém. Jesus não mostra nenhuma preocupação em corresponder com as expectativas de homens, mas a expectativa de Deus, pois não veio para ser coroado pelos homens, mas para a cruz a fim de ser coroado pelo Pai. O questãi é que os discípulos estavam sendo influenciados por essa expectativa de um rei que lhes devolvesse a honra, através da ascensão de um novo poder político social, esperavam que ele fosse esse homem e essa expectativa enganosa fez com que experimentassem a frustração. Em Lucas 22.24 diz que eles já discutiam entre eles qual era o maior, em Marcos 10.39 Pedro e Tiago pedem a Jesus uma posição de honra em seu Reino, pedido que causou indignação nos outros discípulos, justamente porque o cobiçoso sempre levanta contendas(Provérbios 28.25). Você percebe como a expectativa equivocada afeta as motivações? Quando iludidos perdemos o foco. Quando Jesus chegou perto do momento ministerial que todos esperam, de entrada triunfal, de reconhecimento, ele foi para Betânia (Marcos 11.9-11), manteve-se centrado na sua missão.

O PRINCÍPIO APLICADO :: SUPERANDO AS FRUSTRAÇÕES
Toda ilusão gera uma desilusão, uma decepção. Em Lucas 24 os discípulos que caminhavam para Emaús diziam: “Nós esperávamos que fosse ele que havia de redimir a Israel...” Isso aponta para uma desilusão, que é resultado de uma ilusão, gerada por aspirações equivocadas, pois não entenderam o plano, eles esperavam que fosse diferente. Por isso, estavam profundamente decepcionados. Esse termo “decepção” significa: Sensação de depressão resultante de uma expectativa ou desejo não alcançado. A ilusão gerou desilusão, justamente por que suas expectativas não foram alcançadas. Mas se observarmos no começo tudo era diferente, os discípulos renunciaram tudo que tinham e partiram seguindo a Jesus incondicionalmente, tudo era certeza, todos estavam dispostos a tudo. O ministério de Jesus atraia multidões e os discípulos vibravam com isso. O que precisamos entender a respeito das ilusões, é a forma como podemos cair tão rapidamente do sucesso para a depressão. O sucesso dos resultados visíveis tem o poder de gerar expectativas enganosas. O sucesso ministerial é um solo deslizante e consequentemente perigoso, onde somos tentados pela cobiça e nossas motivações podem se corromper.

Quando Jesus percebeu que a cruz estava se tornando uma grande desilusão para Pedro, o repreende severamente, pois estava não mais pensando em harmonia com a vontade do Pai, não falava mais por meio de revelação, mas cogitava segundo o seu conhecimento do bem e do mal, pensava como homem natural não regenerado e isso legaliza o engano (Mateus 16). Da mesma maneira os demais discípulos, à medida que viam de longe indo a caminho Jesus da cruz, viam suas expectativas se frustrando, para eles a cruz era o último lugar que esperam vê-lo. Estavam profundamente decepcionados, ao ponto de deixar tudo para trás, como se tudo tivesse sido um grande engano. Toda desilusão tem um poder de destruição, de devastar nossas esperanças, de aniquilar nossa auto-imagem, destruir nossas emoções e acabar com nossa fé.

A desilusão teve um efeito altamente destrutivo na vida daqueles discípulos que estavam partindo para Emaús, uma cidade a 12 Km de Jerusalém. Aniquilou a capacidade de confiar e ver com clareza. Precisamos entender que Deus não vive em função de nossas expectativas, mas em função de seus propósitos. Existem muitas pessoas como Cleopas, que por causa de ilusões, não acreditam mais no chamado de Deus para suas vidas. Quando as coisas não acontecem como esperamos, temos uma tendência a desistir por acharmos que não acontecerão mais.

Eles não conseguiam mais permanecer em Jerusalém, uma cidade cercada por montanhas, então, partiram para Emaús, uma cidade localizada numa planície. Quando nos decepcionamos, não conseguimos mais viver num lugar que só se vê pela fé, temos que ir a um lugar que possamos ser guiados pelos nossos próprios olhos, onde corremos atrás daquilo que o mundo diz que é concreto. Tornamos-nos pessoas que vivem em funções dos seus próprios negócios, freqüentamos uma congregação sem se envolver e começamos a viver a nossa vida tentando nos esquecer dessa grande decepção: “chamado ministerial”. Muitos estão saindo de Jerusalém para a terra das planícies, para uma vida sem ideais eternos e uma perspectiva de Deus.

IMPEDIDOS DE VER AS EVIDENCIAS DE UMA NOVA REALIDADE
Lucas 24.15 diz “Aconteceu que , enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles”. Isso é um fato. As ilusões geram decepções e nos impedem de ver claramente o que está acontecendo ao nosso redor, nos cega para discernir o Reino se movendo, nos paralisa e nos foca na decepção que está nos trazendo dor e depressão. Em Lucas 24.22 e 23 dois homens que estavam frustrados citam que as mulheres que estavam com eles e os discípulos, haviam ido ao túmulo vazio e declaravam que Cristo estava vivo, mas mesmo assim não conseguiam crer! Por quê? Porque só tinham olhos para sua decepção, não conseguiam ver mais nada a sua volta, perderam a capacidade de perceber o Reino em movimento. Creio que assim estão muitos homens cheios de graça, potencial e legado de Deus sobre suas vidas, decepcionados porque as coisas não aconteceram como esperavam, frustrados porque imaginaram que as coisas seriam mais rápidas e maiores do que realmente são. A questão é ainda que as coisas não estejam acontecendo como esperávamos, não significa que não estejam acontecendo. A última notícia é que Cristo está vivo, intercedendo por todos os santos e edificando uma igreja na terra.

Cristo ressurreto se dispõe a uma jornada de 12 km com dois desertores, homens que diante do cumprimento lamentavam nada ter acontecido, homens impedidos de ver com clareza. Da mesma forma muitos não conseguem ver por causa da dor causada pela decepção. Vivem questionamentos constantes: Onde Ele estava quando portas se fecharam e fiquei sozinho? Onde estava quando meus líderes abortaram meus sonhos? Onde estava quando aqueles que eu confiava me traíram? Onde estava quando mantenedores falharam? Apegamos-nos a uma decepção de tal forma que toda nossa vida passar a girar em torno dela, e toda verdade e propósito de Deus parece perder sentido, nossa adoção parece perder significado, não conseguimos ver todas as coisas cooperando para nosso bem e para o cumprimento de um propósito. O grande desafio é pararmos para ver além da nossa dor.

Os dois discípulos falavam “era poderoso em obras e palavras, esperávamos que fosse ele e já é terceiro dia...”, usam o verbo no passado como se Cristo estivesse atrasado e o plano falhado. Então Jesus diz: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram...”. São chamados de homens desprovidos de entendimento e discernimento, incoerentes e estúpidos, lentos para corresponder com tudo o que estava acontecendo a sua volta. Diante desses sofismas e enganos formados a partir de expectativas equivocadas, Cristo começa expor as escrituras (começando por Moisés e discorrendo por todos os profetas e expunha o que a seu respeito constava em todas as escrituras” Lucas 24.27), começa desmontar estruturas de pensamento, a falsa lógica de uma verdade incompreendida, começa a tirar os olhos deles de “um ponto” e ampliar para um “plano amplo”, para entenderem que aquele momento de dor era necessário dentro de um processo que visava o cumprimento do todo.

Creio que estamos diante de uma das armas espirituais usadas por Paulo para destruir fortalezas da alma que se levantam contra o conhecimento de Deus (2 Coríntios 10.4), o conhecimento revelado das escrituras tem poder de confrontar nossas frustrações e revelar o que é da alma e do espírito (Hebreus 14.12), tem capacidade de gerar fé novamente para voltar ao propósito (Romanos 10.17). Deixemo-nos ser confrontados como que por um espelho pela verdade para nossas vidas, abandonemos o vício da “audição seletiva”, de ouvir apenas aquilo que é interessante para o que queremos fazer, deixemos nossas verdades fragmentadas e incompletas e voltemos às escrituras com responsabilidade, para que não venhamos criar expectativas que estejam além do que Ele está dizendo. Atos mostram que os cristãos transtornavam cidades, hoje nós dizemos que vamos conquistar cidades 100% para Cristo. Com base em que afirmamos isso? Quanta frustração podemos gerar criando expectativas de uma tomada física, diante do Reino agora espiritual? Propondo realizações do reino vindouro na manifestação do reino presente. Mais uma vez estamos correndo o risco de cair no mesmo erro. Existem muitos exemplos que podemos citar.

Atentemos para isso! Muitas vezes Deus está falando “A” e estamos entendendo “B”, está falando que vai fazer “X” e ecoamos nos quatro cantos da terra que Deus vai fazer “XYZ”. Somos tentamos pelo sensacionalismo profano e altivo, afetando a fé de pessoas em algo genuíno que Ele está movendo em toda a terra. Entenda isso! Ele está edificando uma Igreja, algo está acontecendo, nunca deixou de acontecer, a questão é que estamos caminhando na direção errada por causa das nossas expectativas equivocadas, estamos deixando Jerusalém, uma cidade entre montanhas, para seguir rumo às planícies de Emaus. Estamos deixando de andar sobre a sua palavra, para andar segundo nossos próprios planos, caminhos e pensamentos. Voltemos às escrituras e sejamos iluminados novamente!

RECUPERANDO A VISÃO :: A REALIDADE DA RESSURREIÇÃO
Quando estavam chegando perto do lugar para onde iam, Cristo faz menção de passar adiante e o constrangeram a ficar. Uma situação aparentemente simples, mas que me faz pensar em tudo que está sobre nossas vidas, e da possibilidade de deixarmos passar por nós a oportunidade de nos unirmos ao que Deus está movendo em nossas cidades e na terra. A minha oração é que não passe de nós, o meu desejo é de mais uma vez constrange-lo a entrar, ceiar e nos reconectar com a realidade. Para eles a última notícia era a cruz, mas estavam já diante da ressurreição.

Segundo Marcos de Souza Borges, “A desilusão atua na mesma proporção da falta de entendimento da cruz”. Em Lucas 24.29, celebraram a ceia que teve o poder de curar e restaurar a visão. Quando Jesus partiu o pão, seus olhos se abriram, e o reconheceram. Entenderam que a cruz não foi o fim, mas o começo. Li algo em algum lugar que me chamou atenção. Não há necessidade de ressurreição em alguém que ainda vive. Não podiam entender a ressurreição enquanto suas expectativas pessoais ainda estivessem vivas. A cruz que era motivo de desilusão, traria o remédio. Na cruz nos identificamos com Cristo e aspirações humanas deixam de existir, na ressureição nossos olhos se abrem e percebemos uma nova realidade.


Já parou pra pensar que ainda pregamos mais a cruz do que a ressurreição? Ainda estamos tentando convencer cristão a entregarem a sua vida ao invés de já estamos andando na realidade da ressurreição. Estamos muito atrasados, estamos ainda embaraçados com nossas coisas, cativos ao medo de perder, dominados pelo extinto de sobrevivência. A igreja do primeiro século trazia como base do seu funcionamento o testemunho da realidade da ressurreição (Apocalipse 1.18 Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno). A partir das evidências e identificação com sua morte, nos tornamos testemunhas da ressurreição (Romanos 6.5 7.6), que Foi e É, a suprema e majestosa verdade do evangelho, o cumprimento da Lei e dos Profetas (Lucas 24.44-46) a mensagem dos discípulos (Atos 17.3), o fundamento do testemunho apostólico, a certeza do Juízo Final, a esperança dos justos para o presente, futuro e por toda a eternidade. Essa deve ser a nossa pregação em todo tempo e lugar (1 Coríntios 15.14), representando mais que o entendimento da doutrina, mas viver na dimensão da ressurreição um cristianismo vivo e vitorioso. A forma como vivemos testifica o Cristo que conhecemos.

Não se alcança a realidade da ressurreição sem a realidade da crucificação. Romanos 6.5-14 diz: “Se unidos a Ele na semelhança da sua morte, certamente seremos também na semelhança da sua ressurreição.” Para vivermos em Cristo na realidade da ressurreição, nosso velho homem deve ser destruído (Romanos 6.6-7). Morremos com Cristo, com Ele viveremos (Romanos 6.8), considerando-nos mortos para o pecado e vivos para Deus (Romanos 6.10). Na realidade da ressurreição, pelo testemunho do Espírito de Deus, temos a mente voltada para as coisas do Espírito (Romanos 8.5). A partir do momento que entenderam que a cruz não era o fim, mas o começo, seus olhos se abriram. Creio que essa possa representar a segunda arma espiritual usada por Paulo em 2 Coríntios 10.4 para anular a altivez que coopera para a edificação de fortalezas levantadas contra o conhecimento de Deus. A morte e a vitória da ressurreição sobre o orgulho humano.

Lembremo-nos de Isaias 53.3: “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores e que sabe o que é padecer, e como um de quem os homens escondem o rosto , era desprezado e dele não fizemos caso. Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si, e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi transpassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades, o castigo que traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca, como cordeiro foi levado ao matadouro, e como ovelha, muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes, por causa da transgressão do meu povo foi ele ferido. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar, quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias, e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito, o meu servo, o justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si...”

Meu desejo que é todo aquele que se identificar com essa palavra, possa permitir-se ser curado, deixe-se ser vencido por Cristo, renda-se ao chamado e submeta-se a processos. Não deixemos que raízes de amargura e frustração contamine uma geração marcada para viver algo genuíno e inédito em Cristo. Deixemos que essa palavra desça da mente para o coração, não basta crer que ele levou sobre si nossas dores, precisamos nos expor para “entregar” a ele nossas dores. Não se contente com o alívio, nem se acostume com a dor, porque ela sinaliza uma doença de morte em sua alma, experimente a cura e prossiga. No Reino de Deus a morte nunca é o fim, a ressurreição é o fim. Não importa qual é a circunstância, a ressurreição é a manchete de todos os dias.
Lucas 14.27 diz: “E qualquer que não tomar a sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípulo...” Indo após ele, todos os dias nos lembramos que não andamos por aspirações pessoais, não ambicionamos coisas altas, mas procuramos nos mover correspondendo a voz do Espírito que nos guia em toda a verdade segundo o propósito, tempo e modo de Deus. Romanos 12.16 diz: “Sede unânimes entre vós, não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos as humildes, não sejais sábios em vós mesmos. A ninguém torneis mal por mal, procurai as coisas honestas perante todos os homens. Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens”. Procuremos pela unanimidade, ouçamos o som que mobiliza, percebamos o movimento corporativo de santos incendiados por uma mesma causa, tenhamos consciência da longa jornada que nos espera, optemos pelo caminho estreito, vejamos o invisível e sejamos a surpreendente manifestação do improvável.


Sejamos pessoas resolvidas e estejamos bem posicionados. Sejamos iluminados pelas escrituras e reposicionados pela ressurreição, voltemos a Jerusalém, ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído. O lugar onde nossos questionamentos são vencidos pela obediência, onde aprendemos a esperar pelo Espírito e somos levantados como testemunhas das realidades de uma nova criação. Não deixemo-nos frustrar por não compreender o incompreensível, mas nos comprometamos com aquilo que temos conhecido e revelado, para que nosso avanço e progresso seja conhecido. Oro para que sejamos empurrados e favorecidos pela humilde sujeição a sua voz e não resistidos por causa da altivez dos nossos próprios planos.

Fraternalmente em Cristo
Anderson Bomfim

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:: DEVOÇÃO EM DIAS DE OBSCURIDADE ::

[ quarta-feira, 16 de junho de 2010 | 0 comentários ]



EXTREMA DEVOÇÃO EM DIAS DE OBSCURIDADE
A estrada sempre acaba proporcionando bons momentos de reflexão e em uma dessas viagens estava pensando sobre o tempo em que estamos vivendo. Parece que estou sendo repetitivo em algumas coisas que tenho falado, mas são repetitivos os questionamentos que ouvimos. Falamos no artigo anterior sobre direcionamentos práticos em dias de mudanças, porém, tenho visto que um medo tem nos paralisado. O medo do escuro tem nos impedido de confiar na simplicidade diretiva para esse tempo.

Uma palavra tem pulsado em meu espírito nesses últimos dias. Isaias 42.14 diz: “Por muito tempo me calei, estive em silêncio e me contive, mas agora darei gritos como a que está em trabalho de parto, gemendo e respirando ofegante. Transformarei os montes e as colinas em deserto e farei secar toda a sua vegetação. Transformarei os rios em ilhas e secarei as lagoas. Guiarei cegos por um caminho que não conhecem, eu os farei caminhar por veredas que não conheceram, farei as trevas se tornarem luz diante deles e aplanarei os caminhos acidentados, Eu lhes farei essas coisas e não os desampararei”.

Esse texto continua falando sobre mudanças na condição das coisas. Tempo em que o silêncio é quebrado por um novo brado de Deus, voz que ecoa como nunca antes, despertando a igreja para remir o tempo (trazer o kairos para sua realidade), um romper como de trabalho de parto. Essa expressão me chama atenção por tipificar bem nosso momento (assim como a expressão “princípio das dores” comentada no artigo anterior). Ouvi um amigo comentar que somos como alguém diante de uma ecografia, não temos uma visão clara, mas ouvimos claramente seu som. Uma semente é gerada na obscuridade até que chegue o tempo oportuno de vir à luz.

Nesse tempo de mudanças, de lugares altos aplanados, lugares frutíferos perderem a vida, rios se dividirem e águas secarem, em meio obscuridade e falta de visão, Ele nos guiará por um caminho que não conhecemos, caminhos dos quais nunca andamos antes. Nesse momento em que nos faltam respostas prontas e uma perspectiva clara de futuro, somos desafiados a nos deixar ser guiados por Ele, para que a escuridão se torne luz diante de nós. O mais importante é entender que para Deus tudo é soberanamente claro e não nos desampara nesse processo de dependência para avanço.

Um processo em que nossa lógica perde seu sentido, expectativas frustram, métodos falham, resultados faltam e mais uma vez estamos diante do “paradoxo do Reino”. Um momento de desconstrução para aderir a uma nova mentalidade e andar por um novo caminho, desprovidos de expectativas exageradas e visão uma pré-concebida. No sentido existencial, um paradoxo é “um argumento chocante e inusitado por refletir o absurdo em que está imersa a existência humana, argumento que contraria os princípios básicos de pensamento e desafia a opinião concebida e compartilhada pela maioria, aparente falta de nexo ou de lógica; contradição”
[1].

De certa forma a mensagem profética sempre foi paradoxal, provocando uma reação, a conversão do coração do povo a Deus para cumprimento de um propósito. A nossa lógica e herança cultural está sendo confundida pelo paradoxo do Reino. Assim como da esterilidade natural de Sara, Rebeca, Raquel, Ana, Isabel, Deus chamou a existência homens que cumpriram propósitos divinos, da obscuridade natural nasce uma claridade divina, um novo censo de direção e sentido, como nos dias dos Adão, Abraão, Moisés e os primeiros discípulos de Cristo.

Na sua bíblia Gênesis 1:2 diz: “A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”. A terra havia se tornado um caos, estava em obscuridade, porém o Espírito “pairava”, sustentava-se sobre, a palavra original aponta para “dominar do alto”. O Espírito de Deus “chocava” no intuito de guardar e proteger para recriar. Creio que assim como na criação, hoje o Espírito Santo continua sendo derramado (Joel 2.28) sobre toda a terra para que através da palavra viva personificada nos santos, a igreja tenha voz para chamar a existência às realidades de uma nova criação.
Isaias 45.7 diz: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”. Deus chamou à existência a luz, segundo a “torá” Ele disse: “Seja a luz”. Trouxe sua própria expressão na terra e a partir dessa luz tudo foi recriado. Sabemos quem é a luz, e a partir dessa luz tudo se fez novo. A partir da luz as trevas foram modeladas (criou as trevas; bara’) e foram estabelecidos limites para ela. Quero com isso dizer que Deus tem total controle sobre o processo que visa o cumprimento do seu plano. Segundo Isaias 45.7 diz que ele faz o mal e a paz. Jó 5.18 diz: Ele causa a dor e Ele mesmo a contém, fere gravemente e cura. Tudo que Ele faz é bom e para o bem daqueles que o amam, o fato de ainda estarmos nos alimentando da árvore do conhecimento do bem e do mal ao invés de estarmos ligados a “videira verdadeira”, o fato de andarmos segundo a inutilidade dos nossos próprios pensamentos ao invés de amarmos a “luz”, faz com que esse Reino de Deus ainda pareça um paradoxo.

Ainda que vivamos dias de obscuridade e a luz ao redor de nós de torne noite, até as próprias trevas não te serão escuras: “as trevas e a luz são a mesma coisa. Pois tu formaste o meu interior tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem”(Salmo 139.11). Isso é fantástico! Deus sempre vê claramente, e mais uma vez as escrituras usam a figura de uma gestação, pois da obscuridade, de modo assombrosamente maravilhoso nos formou, parte por parte, até o tempo do nascimento. Todo trabalho de parto é traumático e toda experiência que tem como objetivo trazer o marco de uma nova estação tem que ser radical o suficiente para definir o tempo e fazer com que nossas vidas nunca mais sejam as mesmas.

Enquanto para muitos a escuridão e obscuridade é ambiente de medo e fuga, devemos buscar fazer desse ambiente um lugar de confiança e extrema devoção, para que da escuridão, venha a existência um novo caminho, uma visão clara dos próximos passos que nos levarão a abraçar nosso destino. Devemos tomar cuidado porque sempre que estamos no escuro, procuramos por algo ou alguém em que possamos nos apoiar. Nesse momento podemos procurar nos apoiar em algo aparentemente seguro e deixar de avançar para um lugar claro, ou ainda podemos retroceder ao um lugar em que estávamos antes, que nos parecia mais seguro abortando a jornada e a busca. Quero voltar com você ao testemunho de homens que venceram seu medo do escuro para poder ver claramente a partir de uma perspectiva divina.

VAMOS AS TESTEMUNHAS
Nossa primeira testemunha é Abraão e em Gênesis 15 diz: “Depois destes acontecimentos, veio a palavra do Senhor a Abrão, numa visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande. Ao pôr-do-sol, caiu profundo sono sobre Abrão, e grande pavor e cerradas trevas o acometeram; então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos”. Um contexto que envolve um propósito, uma relação pactual de Deus com um homem, porém, num ambiente de densa escuridão uma visão clara do futura é alcançada! A partir da impossibilidade humana de ver, um plano sobremodo elevado pode ser alcançado. Sempre falamos sobre como seus pensamentos são altos e seus caminhos são altos, porém, insistimos na lógica dos nossos pensamentos e nossos caminhos. Hoje temos a oportunidade de ver a partir da nossa incapacidade de enxergar.

Nossa próxima testemunha é Moisés, Arão e o povo de Israel. Deuteronômio 5.22 diz: “Estas palavras falou o Senhor a toda a vossa congregação no monte, do meio do fogo, da nuvem e da escuridade, com grande voz, e nada acrescentou. Tendo-as escrito em duas tábuas de pedra, deu-mas a mim. Sucedeu que, ouvindo a voz do meio das trevas, enquanto ardia o monte em fogo, vos achegastes a mim, todos os cabeças das vossas tribos e vossos anciãos, e dissestes: Eis aqui o Senhor, nosso Deus, nos fez ver a sua glória e a sua grandeza, e ouvimos a sua voz do meio do fogo; hoje, vimos que Deus fala com o homem, e este permanece vivo”.

Estamos falando do monte Sinai, de um momento de cumprimento ao que havia sido mostrado a Abraão e de definição para uma nova realidade a ser estabelecida, porém, o ambiente mais uma vez era de obscuridade, em meio as trevas ouviram claramente a sua voz, declarando quem eles eram, o que haviam de fazer, trazendo uma nova legislação que os guardaria para sempre, apontando para o futuro. Salmo 105. 26 diz algo importante: “E lhes enviou Moisés, seu servo, e Arão, a quem escolhera, por meio dos quais fez, entre eles, os seus sinais e maravilhas na terra de Cam. Enviou trevas, e tudo escureceu; e Moisés e Arão não foram rebeldes à sua palavra”. Em meio a falta de uma visão humana clara foram fiéis ao que estavam ouvindo claramente. Sei que não temos hoje uma visão clara, porém, não temos como negar que estamos ouvindo o Espírito claramente.

Lembramos de Jó 12.22 onde diz que da escuridão pode revelar coisas profundas e fazer da luz escuridão, pode fazer algo crescer e acabar, dispersar e juntar. Deus pode provar para cada um de Deus que é infinitamente mais do que tudo o que até hoje pensamos ao seu respeito, Ele pode nos levar até o lugar de onde declararemos “não ter nada a declarar”, ao lugar de onde o veremos como nunca antes. Assim como Jó, no meio da escuridão declarou antes conhecê-lo apenas de ouvir falar mas agora seus olhos o viam claramente.

Não podemos deixar de citar Paulo, um homem determinado que vivam uma jornada contra a seita que crescia declarando um falso Messias usando como base de sua fé a torá. Ele tinha convicção que Deus o havia chamado para isso, até um encontro na estrada de damasco, onde se depara com a “luz” que o cega completamente por três dias para que sua vida mudasse de condição radicalmente. Paulo é um ótimo exemplo de que devemo ser cegados para ver claramente. Foram três dias cegos, porém muitos anos na obscuridade, no sentido de uma busca no anonimato pelo desconhecido, afastamento da vida social, ausência de celebridade e glória
[2]. Foram anos em que “recebeu do Senhor o que nos entregou”.

Além de muitas outras situações que você pode se lembrar, queremos encerrar fazendo menção do nosso mestre, no momento decisivo de seu ministério. Lembrando mais uma vez de Mateus 26.36, no Getsêmani, um lugar de extrema pressão se moveu em extrema devoção. Estamos vivendo dias de pressão intensificada, momento de definição, um ambiente propício para uma extrema devoção, uma entrega sincera, orações fervorosas e reverente submissão. Segundo Lucas 22.39, Jesus estando em agonia orava mais intensamente, enquanto seus discípulos dormiam de tristeza. Não é o momento de desanimar, mas de buscarmos ouvir para saber o que fazer. Falamos mais sobre esse texto no artigo anterior “O desafio de ter uma direção em dias de mudanças globais”.

VENCENDO O MEDO DO ESCURO
A primeira sensação que temos quando nos encontramos no escuro é medo e enquanto lia algumas coisas sobre isso, encontrei um comentário interessante de Mark W. Baker: “O medo é um elemento essencial da vida, uma reação natural a um perigo. Ao enfrentar nossos medos podemos aprender muitas coisas sobre nós mesmos, ao passo que tentar fugir deles costuma nos levar a direção errada. Deus sabe disso. Ele não nos desvia do vale tenebroso (Salmo 23.3), mas nos encoraja a atravessá-lo estando conosco. O medo é um sinal para nos lembrar que a melhor maneira de lhe dar com uma crise é não atravessá-la sozinho”
[3].

O fato de estarmos sozinho em um lugar de obscuridade potencializa o medo, porque revela nossa vulnerabilidade, que significa uma condição de exposição, quando nos sentimos desprotegidos e corremos riscos. Assim que Adão e Eva tomaram consciência de sua vulnerabilidade, se assustaram e se esconderam. Creio que Deus está nos levando a esse lugar de vulnerabilidade, de exposição e de risco. Mark W. Baker comenta algo sobre isso: “Ser franco é fácil. A vulnerabilidade assusta. Quando somos vulneráveis admitimos que dependemos dos outros, dependemos de pessoas imperfeitas que podem falhar conosco e do Deus que pode ter planos diferentes dos nossos”
[4].

Em Êxodo 20.20 diz: “Não temais; Deus veio para vos provar e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis”. Não tenhamos o medo que afasta de Deus e aproxima de bezerros de ouro, da religião segura e estável. Devemos evitar o medo que nos paralisa pela preocupação de evitar o risco e a dor, obcecada pelo que se podemos perder. Porém, agindo assim, perdemos a oportunidade de nos desenvolver e somos lançados em um ciclo de frustração uma vez que “Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece”(Jó 3.25).Tenhamos seu temor a fim de que não nos desviemos por caminhos rápidos e sejamos surpreendidos pelo destino. Devemos nos aproximar de Deus e não nos afastar dele. Esse temor é o princípio da sabedoria porque a consciência de quão maravilhosamente soberano Ele é revela quão limitados somos.

Tentando trazer alguns passos práticos para esse tempo, nossas testemunhas entenderam o momento em que viviam como de definição e de “extrema devoção”. Por isso, encorajamos a todos que se envolvam como nunca no ministério da oração, estamos intensificando essa dinâmica em nossa vida pessoal e nas mobilizações para que tenhamos um movimento que coopere com atuação do Espírito a partir da Igreja. Logo que cheguei de viagem li uma palavra compartilhada pela equipe Rugido do Leão que coopera com o que estamos orientando: “Nós precisamos nos esforçar exercitar, nos comprometer. Precisamos entender que já passamos para outra estação, que já vencemos os desafios que estavam antes. E esse é um tempo de esperar, e esperar no sentido como Jesus falou para os seus discípulos, espere em Jerusalém, desenvolvam a oração. Esperem com outras perspectivas, não tentem mais pensar em idéias novas, produzir coisas novas. Espere, espere, busque.Porque nesse tempo nós vamos ver um crescimento, o ensino sendo ampliado, e quando isso acontecer nós vamos nos sentir encorajados, porque nós vamos ver a transição se concluindo. E com isso vai haver um realinhamento em nosso meio. Nós vamos nos sentir encorajados, porque estamos sendo moldados. E aí nós vamos funcionar com mais autoridade. Para construir o que nós fomos chamados para construir”
[5].

Outro passo importante é não estar só, a devocional pessoal, trará a convicção de que não estamos só, porém, assim como diz Hebreus 10.23: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima”. O autor fala da necessidade de guardarmos com firmeza a declaração daquilo que foi anunciado e está prestes a se cumprir, pois quem prometeu é fiel e verdadeiro. O interessante é que esse “guardar com firmeza” está relacionado ao “considerar”, olhar a nossa volta para perceber a necessidade de estimular uns aos outros. Essa expressão tem a ver com “tornar afiado, acelerar, urgir e até mesmo provocar”. Mediante a tudo o que já vemos e ouvimos, agora precisamos olhar a nossa volta, perceber que não estamos sozinhos e nos comprometer em estimular.

Porém, para isso será necessário não desistir de “congregar”, expressão de fala de se unir aos que já estão juntos. Quando penso nessa expressão congregar, a figura que me vem a mente é de um ônibus aqui de Curitiba chamado “ligeirinho”, em sua rota das 18:00 horas, para aqueles que moram em São Paulo pode ser comparado com o metro. Mas o que isso tem a ver? Eram conduções são geralmente tão lotadas, as pessoas estão tão próximas umas das outras que mesmo sem ter onde segurar, não correm o risco de cair. A raiz da palavra congregar, “epi” tem a ver com essa posição de pessoas perto, sobre, acima, por todos os lados, e esse congregar proporciona um ambiente de “admoestações”, que tem a ver com chamar as pessoas para o lado, afim de que haja instrução, fortalecimento, estimulo ao aprimoramento moral, comportamental e espiritual. Quanto mais vemos que dias de finalização se aproximam, mas precisamos resgatar essa dinâmica de vida e de funcionamento.

1 João 4.18 diz: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro”. Quando nos deixamos ser completos pelo amor, não há lugar para o medo. O medo nos impede de crescer e amadurecermos nesses princípios fundamentais do nosso funcionamento. Voltemos ao primeiro amor, voltemos a quem nos amou primeiro, voltemos mais uma vez uns aos outros para que possamos avançar nesses dias de obscuridade, ouvindo claramente sua voz e guiados por um novo e vivo caminho.

Fraternalmente
Anderson Bomfim

[1] Dicionários Houaiss
[2] Diconário Houaiss
[3] BAKER Mark W. Como Deus cura a dor.
[4] BAKER Mark W. Como Deus cura a dor.
[5] Blog Fábio Souza www.am38.rugidodoleao.com/?paged=2